Aos 45 anos, Elkeane Aragão foi alvo de especuladores, que tentaram de diversas formas, entender a razão pela qual decidira deixar um casamento de 25 anos, e uma vida dedicada ao ministério da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) por mais de 28 anos.
Elkeane nasceu em Teresina – capital do Piauí. Foi criada na Igreja Batista, mas, desde muito pequena, sempre sentiu-se pertencente à tribo indígena, por herança da avó paterna, Rosa Arcangela Moreira, com quem convivera na infância. Aos 15 anos, Dona Kedma Aragão, mãe da piauiense, levou todos os filhos para morar em São Paulo, em busca de melhores oportunidades de vida. Por influência do irmão mais velho, Elkean Aragão, Elkeane e os cinco irmãos foram batizados na Igreja Adventista.
Tornou-se devota e uma estudiosa da bíblia, sua fama, de crente exemplar, espalhou-se pelas comunidades adventistas da cidade, a ponto de chamar a atenção de alguns pretendentes das congregações. Com 18 anos começou a namorar, e aos 19, casou-se, bem no dia do seu aniversário. “Naqueles dias, eu me via como uma jovem crente, privilegiada, fiel a Deus e ao namorado que havia me escolhido dentre todas as jovens solteiras adventistas da região”, detalhou.
O casamento do casal ministerial durou 25 anos. Durante a união, o pastor Luís Gonçalves focou em dedicar-se exclusivamente à missão da igreja. Conquistou espaço, galgou títulos, cargos, e tornou-se uma das figuras mais importantes do segmento religioso para toda América Latina. A eloquência das suas pregações era tão precisa, que o levou a atuar como diretor de evangelismo da IADS, na América do Sul, cuidando de oito países. Por mais de duas décadas, também apresentou programas na TV Novo Tempo, emissora da Rede Adventista de Comunicação.
Na época, com o esposo fora de casa na maior parte do tempo, incluindo finais de semana e feriados, Elke dedicou sua juventude em apoiar o marido e cuidar das filhas Kelanie Aragão da Silva e Kelsie Aragão da Silva. “Eu era agradecida, ciente das bênçãos e privilégios da vida ministerial. Eu não reclamava, nem murmurava. Não possuía, contudo, identidade própria. Eu me via como os outros me viam: esposa do pastor, e para isso eu vivia”, lembrou.
A jovem esposa e mãe de duas filhas, abnegou até quase os 36 anos, de qualquer tipo de pensamento auto beneficente. Suas ações eram sempre voltadas para o corpo familiar, mas parecia que ela não fazia parte dele. Passou a viver no automático. Vivenciou um casamento onde suas vontades não eram ouvidas ou acatadas. Ao desaprender a desejar e escolher, perdeu o “brilho” pela vida, incluindo as filhas, que chegaram a ter depressão na adolescência. Por focar-se, exclusivamente, no olhar missionário de levar a salvação ao mundo, ficou limitada para enxergar a finco, as ‘almas’ que habitavam dentro da casa: Kelanie e Kelsie.
No período escolar do ensino fundamental das filhas, já não havia a necessidade de ficar em casa em tempo integral. Foi então que decidiu investir na educação e matricular-se no ensino superior. Ingressou na faculdade de jornalismo, aos 36 anos. Na adolescência, havia passado por algumas experiências de trabalho, que foram pausadas logo após o casamento. Aos 40, se formou e conquistou o emprego de carteira assinada, atuando na área e internet.
Elkeane tomou a decisão de deixar o casamento aos 45 anos, por livre e espontânea vontade, quando suas filhas já estavam crescidas e encaminhadas na vida. Já nos primeiros anos, ela carregava o desejo de separação, mas não o fez por inúmeras razões religiosas e por não querer desfazer o lar de suas pequenas.
Elkeane Aragão se tornou uma jornalista perfeita, seus conhecimentos vão muito além do que os ensinados da faculdade. Foi ela quem conseguiu materializar, de forma muito competente, a ideia e a “pegada” do portal Tudo de Bom Cascavel. Ela é a designer gráfico do site, faz as inserções dos banners e logos, além de produzir materiais publicitários para as empresas que ainda não possuem, desde a criação do logo, caricaturas, personagens, até banner para outdoor. Faz revisão ortográfica e gramatical de livros e textos, ilustração, diagramação e outros. Ama o que faz, e enxerga o dinheiro como resultado dos seus esforços.
Atualmente, a indígena Elkeane se assumiu e vive livremente as suas raízes. Ela e as filhas fizeram e fazem terapias para superar as vivências do passado. A filha Kelsie tem uma agência de marketing. A Kelanie, recentemente lançou um EP com seis músicas. Ela trabalha para uma empresa estrangeira home office. Vivem de forma independente e madura, cada qual, na sua própria casa.
A cada dia, Elkeane tenta recuperar a identidade que foi perdida. “Eu tinha o cabelo alisado e pintado de outra pessoa, para agradar outras pessoas, vestia suas roupas, sapatos e posava para fotos”, explica. Por vivenciar as lutas das mulheres, negros e povos indígenas, a jornalista apoia causas que promovam a inclusão social e equidade para todo tipo de raça, cor, tribo, religião ou nação. A Elkeane que ressurge, é autêntica, simples e altruísta. Não deseja conquistar o céu. Para ela, conseguir ajudar a melhorar a vida das pessoas e a sociedade apenas nesta terra, já está de bom tamanho.
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