quinta-feira, 21/11/2024

21/11/2024

Kátia, gerou um filho na barriga e outros dois no coração

“Porque não arruma o seu cabelo? […] É cabeleireira e não faz o próprio alisamento capilar?”. Estas são apenas duas das muitas frases desprezíveis ouvidas por Kátia Vidal Ferreira, afrodescendente, paraense, e dona de muitos cachos compridos, volumosos, e ao contrário das alegações alheias, muito bem tratados e arrumados.

Sempre vivenciou o racismo oculto, aquele que é impossibilitado de ser punido pela Lei Constitucional, como brincadeiras de mal gosto feitas por pessoas do seu ciclo de convivência, percepção da ausência de representatividade negra na área da beleza, além de ser julgada por assumir suas características naturais.

Casou-se cedo, aos 16 anos, com um homem de 34, que já tinha uma filha em idade escolar. Kátia cuidou da garotinha como se fosse sua, e é claro, se apegou a ela emocionalmente. O casal teve um filho, Luiz Gustavo. Mas como o pai acabou se viciando em jogos de baralho, os dias da família tornaram-se difíceis e desafiadores.

Primeiro Casamento

Foram nove anos lutando pelo casamento, cuidando dos filhos e trabalhando. A situação financeira não era ruim, o marido custeava as despesas fixas, e Kátia trabalhava apenas para realizar os desejos dos filhos e o seus. Conseguiu, inclusive, guardar dinheiro para investir em alguns caros procedimentos estéticos.

Embora a vida fosse boa de um lado, era prejudicial da outra. Foi então que decidiu se divorciar. Contudo, sempre manteve o amor maternal pela filha do ex-marido, que teve um filho na adolescência, mas aos 18 anos sofreu de um grave acidente de moto e acabou não resistindo. Por amar a mãe que partiu e o bebê que ficou, Kátia adotou a criança, João Lucas, e o criou ao lado do seu primogênito.

Segunda Experiência

Chegou a se casar novamente, da outra vez, com um colombiano. Foi morar no exterior e mais uma vez desfrutou de boas condições financeiras, todavia, abusiva emocionalmente. Por amor aos filhos e a si mesma, decidiu separar-se da segunda união matrimonial e retornou ao Brasil. Em busca de melhores oportunidade para os meninos, mudou-se para Cascavel. O pai de Luiz e avô de João, sempre manteve apoiando os meninos financeiramente.

Pés no chão

Apesar de alegre e extrovertida no jeito de ser, Kátia afirma que ainda está no caminho para encontrar a sua felicidade. “Não posso abrir mão dos meus filhos, minha prioridade é oferecer acesso à educação. Eles estão se preparando para a faculdade. Prossigo trabalhando e passo a maior parte do tempo fora de casa para que eles tenham qualidade de vida. Vou começar a viver minha vida depois que eles estiverem com a deles encaminhada”, explica.

Com a personalidade forte de quem nasceu no Maranhão, é assumida na sua identidade racial e autêntica. No peito tem tatuada a mensagem: “sou intensa”. Valoriza e destaca seus cachos colocando-os em destaque. Para ela, quanto mais volume, melhor. “Alisei meus fios por muito tempo, até que chegou o momento em que percebi que não deveríamos ser todos iguais, pois, o mundo foi criado com seres dotados de belezas diferentes”, destaca.

Kátia é uma Cascavelense Tudo de Bom por possuir um amor incondicional; criou dois filhos que não nasceram da sua barriga, mas foram gerados no coração. Nunca desistiu de lutar, mesmo frente aos percalços da vida. Busca evoluir como pessoa e continua seguindo o caminho para alcançar a plenitude.